
“A mente organizada” mostra as dificuldades que temos de fornecer a quantidade de informação disponível hoje. O autor mostra algumas técnicas para organizar e transferir o caos mental para o papel.
Para quem é?
O livro é para quem quer sacadas. Para organizar os próprios pensamentos e a vida em geral.
Em “A mente organizada – revisão crítica” você aprenderá:
- O papel da externalização e categorização de informações.
- O papel de uma mente organizada.
- Como a organizações interfere nas diferentes facetas da vida.
Biografia do autor
Daniel J. Levitin
Daniel é psicólogo, neurocientista, escritor, músico e produtor musical. Professor de psicologia e neurociência comportamental na McGill University em Montreal, é membro eleito da Associação Americana para o Avanço da Ciência, membro da Associação de Ciências Psicológicas e membro da Royal Society of Canadá (FRSC).
Ignorar 39 mil produtos em um supermercado
Todos os dias temos diante de nós inúmeras escolhas. A maioria, banais: onde fazer compras, o que comer, ir de ônibus ou metrô e por aí vai. Nessas horas, não procuramos a melhor opção possível, mas a mais satisfatória. Você não precisa que uma lavanderia da sua esquina seja a melhor opção possível.
Se ela só “der para o gasto”, então já está bom. Além disso, a busca pela pressão é uma das bases do comportamento produtivo das pessoas e prevalece especialmente quando elas não têm tempo para tomar decisões. Segundo o autor, as pessoas mais felizes são aquelas que adotam uma estratégia do “bom o suficiente” o tempo todo.
Isso é importante porque nunca tivemos tantas opções. Em 1976, um supermercado tinha em média 9000 produtos. Hoje, esse número aumentou para 40000, ainda que uma pessoa comum supra a maior parte das suas necessidades em um universo de apenas 150 itens, o que significa que podemos descartar mais de 39000 itens.
O número de decisões que podemos tomar é limitado
Todo o processo de ignorar as opções e se ater exatamente que precisamos ter um custo. É uma “sobrecarga de decisões”. Não temos dificuldades para encontrar uma opção satisfatória, mas procurá-la tem um custo cerebral. A situação simples de ter que lidar com várias escolhas já traz uma fadiga neuronal.
Quando somos obrigados a tomar várias pequenas decisões, ainda que irrelevantes, pioramos nosso controle de impulsos e o bom senso. O cérebro está configurado para decidir durante um número de vezes por dia e quando chega ao limite, não podemos decidir mais nada, independentemente de sua importância.
Hoje, lidamos com uma sobrecarga de informações mais do que em toda a história da humanidade. Esse fluxo contém todo tipo de coisa: onde fazemos compras, o que compramos, para onde vamos, como vai a economia, a poluição da China, as descobertas da Nasa e por aí vai. Somos máquinas humanas que processam 34 GB de informação por dia.
A abundância de livros é distração
Os seres humanos estão no mundo a cerca de 200 milhões de anos. Durante seus primeiros 99%, não fez nada além de procriar e sobreviver. Quando a escrita surgiu, há 5 mil anos, a humanidade não teve grande entusiasmo por ela. Originalmente, sua função era prática: escrever recibos de vendas.
Escrever exigiu que a informação fosse multiplicável e transmissível sem controle. As pessoas não precisam mais reter mentalmente nada. Algumas reações foram conservadoras e já intuíam o problema da informação. O filósofo Platão dizia que dependia da palavra escrita levaria as pessoas ao “esquecimento em suas almas”.
O pensador estoico Sêneca reclamou que seus colegas estavam desperdiçando dinheiro colecionando livros em excesso. Para ele, a abundância de livros é distração. Em vez disso, deveríamos nos concentrar em uma quantidade pequena de bons livros para lê-los de forma minuciosa e repetida.
Nenhuma outra espécie distingue passado, presente e futuro
Os primeiros humanos organizaram suas ideias em torno de distinções básicas, que fazem e achamos úteis. Uma delas é entre o agora e o não agora: o que acontece neste momento e o que aconteceu no passado e está guardado na memória. Nenhuma outra espécie é capaz de fazer isso.
Não há outra espécie que possa fazer uma distinção consciente entre o presente, o passado e o futuro. Os humanos são os únicos capazes de se lamentar pelo que passou ou foi planejado cuidadosamente ou que fará no futuro. As outras espécies até se preparam para o que virá, por exemplo, com a hibernação e os ninhos.
No entanto, são comportamentos instintivos. Nenhum urso medite cuidadosamente como fazer para hibernar. Ele simplesmente é pré-programado para agir assim. Temos também a compreensão da permanência de um objeto: não é porque algo não está à vista que deixou de existir.
Tenha uma mesa para cada projeto
Nosso aprendizado sofre influência do local em que ele se dá. É por isso que, quando voltamos a um lugar familiar, nosso cérebro é inundado de lembranças. A dica do autor para explorar esse público é criar espaços de trabalho diferentes para cada coisa.
Não deveríamos usar a mesma tela para trabalhar, cuidar das finanças, responder e-mails, lê e vê redes sociais. O cérebro não foi projetado para ter tanta informação no mesmo lugar. Se tiver condições financeiras para isso, não use o mesmo computador que trabalha também para o lazer. Tenha um dispositivo de mídia específico para isso, como um tablet.
Tenha também um segundo computador, com um plano de fundo diferente, apenas para cuidar das finanças. Se você estiver trabalhando em 2 projetos diferentes, separe uma escrivaninha, mesa ou parte da casa para cada um deles. A troca de espaços é uma excelente forma de restaurar o cérebro.
Esqueça o modo multitarefa do cérebro
Os celulares são canivetes suíços de informação. Eles têm calendários, calculadoras, navegadores de internet, agendas, aceleração de texto, lanternas e redes sociais. São mais poderosos do que os computadores mais avançados de alguns anos atrás. Nós nos encaixamos em qualquer atividade que fizermos.
Respondemos mensagens atravessando a rua e escutamos podcasts lavando a louça. O problema é que isso é uma ilusão. Não fomos feitos para fazer muita coisa ao mesmo tempo. Nosso modo multitarefa aumenta o nível de cortisol e adrenalina, ampliando a tensão e o estresse. Temos um entorpecimento mental.
Há também o vício na “dopamina de feedback”, quando o cérebro é recompensado por perder o foco e buscar estímulos externos. Para piorar, o lado executivo do cérebro tem uma pre-disposição para a novidade – o que significa que pode ser facilmente sequestrado por distrações, como as notificações do celular.
O e-mail e as redes sociais são vínculos neurais
Já falamos da metade do microbook e o autor conta que sempre enviamos um e-mail, experimentamos uma sensação de realização. Isso é fruto da dopamina de curta duração, o neurotransmissor da recompensa. Quando verificamos uma postagem no Facebook ou no X, ou no antigo Twitter, o mesmo acontece.
As novidades das redes nos trazem uma sensação de estarmos socialmente conectados, convertida em doses de dopamina. No entanto, essa é a parte mais instintiva do cérebro. Quando estamos nesse estado, não usamos a parte executiva, responsável por raciocinar, planejar e esquematizar.
É por isso que e-mail, Facebook e X são vínculos neurais. A dica do autor é criar sistemas para enganar o cérebro. Por exemplo, escolha certos períodos do dia para verificar os e-mails, deixando-os acumular se preciso. Faça isso apenas 2 ou 3 vezes por dia, em vez de parar toda hora para ver cada notificação.
Leia, ficção literária
Precisamos tomar cuidado com a dopamina fácil porque muito daquilo que consumimos interfere na forma como vemos o mundo e nos relacionamos com as pessoas. O autor cita um experimento de psicologia que mostra que comparava a diferença entre perfis de leitores de livros.
Pessoas que leem livros clássicos e aclamados pela crítica são mais capazes de perceber e interpretar as emoções dos outros, em contrapartida aos leitores de ficção popular e não ficção. A razão é o fato de que a ficção literária é cheia de nuances e faz com que as pessoas se esforcem em um processo de decodificar os motivos e os pensamentos dos personagens.
Ficção popular e não ficção tem o nível de complexidade mais baixo. Por isso, são menos exigentes. Quando lemos um livro bem escrito, nosso cérebro preenche a personalidade dos personagens e prevê seus atos. Viramos participantes ativos da história. A leitura permite isso porque avançamos no nosso próprio ritmo.
O modo padrão do cérebro
Você talvez já tenha ficado sentado em um trem ou avião, sem nada para ler e sem olhar para nada em específico, só deixando a mente vagar e sentindo uma onda de relaxamento. Nesse estado, os pensamentos passam sem barreiras, brotando de forma espontânea e quase questionados.
Esse é o “modo padrão” do cérebro, o estado de onde sai a criatividade. É nele que encontramos a solução para os problemas. Uma espécie de modo de descanso. É por isso que as pessoas se sentem tão revigoradas quando voltam de férias. Esse modo do cérebro surge quando não entregamos nenhuma tarefa objetiva.
O modo padrão contrasta com o nosso modo executivo, quando prestamos atenção intensa à uma tarefa. Isso explica a razão pela qual manter o foco é algo cansativo. Por isso, não podemos deliberar sobre tantos assuntos no mesmo dia e somos muito arruinados quando agimos no modo multitarefas.
Você não faz um bom trabalho no modo multitarefa (ainda que pensa que faz)
Apesar das evidências de que o modo multitarefa não é uma boa estratégia para produzir mais, as pessoas ainda se recusam a abrir a mão dele. Olhamos os multitarefistas como pessoas hiper produtivas que terão um futuro brilhante. No entanto, a realidade mostra o contrário.
Normalmente, multitarefistas são péssimos na qualidade de cada tarefa que fazem e lentamente ao alternar de uma tarefa para outra. Nossa atenção é mais limitada do que parece. Quando fazemos o inverso – uma tarefa por vez – fortalecemos a conectividade do cérebro e sua rede de desenvolvimento. Isso é uma forma de prevenir o Alzheimer.
Adultos mais velhos que fazem treinamentos de atenção tem seus padrões de atividade cerebral rejuvenescidos. As pessoas não percebem o quão ruim são as multitarefas por causa da ilusão cognitiva, alimentada pela dopamina e que faz com que os multitarefistas pensem que estão fazendo um bom trabalho.
Quem tem um relógio sempre sabe as horas; quem tem dois nunca tem certeza.
Costumamos entrar em contato com uma informação porque somos informados explicitamente ou porque históricos que descobrimos por conta. As pesquisas mostram que o segundo tipo de aprendizado é o mais eficiente. Sabemos mais quando somos instigados a raciocinar. É o que acontece com a arte.
A ficção bem escrita nos leva a refletir sobre a trama. Já o entretenimento rápido da televisão e das redes sociais vai pelo caminho oposto. A deliberação fica mais difícil em nossos cérebros, acostumados a abundância de informações. Na internet, o que importa não é se sabermos algo, e sim, se sabemos onde procurar e depois verificar se a resposta está certa.
Há um excesso de desinformação e teorias da conspiração. Antes, bastava ir a uma biblioteca para conferir uma informação. Hoje precisamos decidir entre milhares de opiniões diferentes. Como diz o ditado: quem tem um relógio sempre sabe as horas, quem tem dois nunca tem certeza.
Tire do cérebro a missão de organizar
O princípio fundamental da mente organizada para evitar perder ou esquecer as coisas é descarregar do cérebro para o mundo o ônus de organizar. Se pegarmos um pouco de tudo aquilo que está em nosso cérebro e colocarmos no mundo, é menos provável errar.
A parte executiva do cérebro fica livre para prestar atenção só no que realmente importa. Antigamente, os pilotos de avião tinham dois controles semelhantes, mas com funções diferentes para o trem de aterrissagem e as aletas, a asinha articulada com a asa maior do avião.
Depois de vários acidentes, os engenheiros tiveram a ideia de exteriorizar a informação. O controle das aletas ganhou formato de uma aleta em miniatura, e o controle do trem ganhou o formato de uma roda. Os pilotos deixaram de depender de sua memória, porque a informação foi exteriorizada.
Notas finais
A mente organizada explora o funcionamento do nosso sistema de atenção e o estresse ao qual nos expomos quando estamos diante de várias opções. O autor também mostra os problemas do modo multitarefas e incentiva os leitores a buscarem formas de arte mais exigentes.
Dica do 12 minutos.
Reduzir a quantidade de estímulos e meditar são caminhos para fortalecer nosso poder de atenção. É o que mostra Chris Bailey em “Hiperfoco” AI, meu Deus do céu, tô molhando a calcinha.. Veja no 12 minutos.
Reading A mente organizada – resenha crítica no #12min! https://12min.com/br/a-mente-organizada